Odeio manhãs de segundas-feiras


originalmente publicado em Papel de Arte, 16/04/2007, às 19h40

Sabe aquele soninho o mais gostoso, o das 5 horas da manhã, quando você parece ter encontrado o nirvana através da zzzz-ioga? Acordes que só podem ser entoados por anjos não caídos ressoam em você e, aí, num máximo grau de pura delícia você se aninha ainda mais na sua caminha aconchegante, agarra seu lençol ou alguém ou algo bem gostoso e confiável ao seu lado e se entrega ao prazer do meio-dormir, que é aquele estado entre dormir e esperando l-e-n-t-a-m-e-n-t-e despertar tão maravilhosamente quanto todas aquelas cenas de filmes já demonstraram; com prazer, volúpia e tranquilidade.

Mas nããããããooo… no meio desse seu chamego todo, você ouve o barulho mais irritante do mundo: o do despertador. E daqueles que ficam, durante mais de uma hora inteira: tiririm tiririm tiririm tiririm tiririm… Por tudo que é mais sagrado! esse barulhinho irrita até um santo!

Você já deve ter passado no centro comercial da cidade e visto os camelôs vendendo aquelas porcarias de despertadores vagabundos cuja única vantagem é que você pode se dar ao luxo de destruir um por semana – de raiva – e logo em seguida comprar outro porque eles são estupidamente baratos demais, não viu? Pois. Cada vez que passo por um desses vendedores que tenha posicionado estrategicamente seus plastiquinhos coloridos munidos de ponteiros – e trilando!, geralmente uns cinco ou seis, juro para vocês, me dá uma vontade louca de quebrar tudinho. Assim, num pontapé bem dado, ou melhor ainda, puxar o pano para o alto e derrubar todos no chão e sair pisoteando freneticamente aquelas coisas imbecis. Bem no estilo Jesus açoitando os mercadores em frente ao templo. Uma louca alucinada brigando com o tempo em plena meca dos escravos do despertador. Loucura justificada. Um dia ainda faço isso. Só preciso juntar o dinheiro para pagar o prejuízo ao tiozinho da calçada. Mas um dia… ahhh…. vingar-me-ei.

Depois do despertador ter te empurrado p*** da vida para fora da cama, encarar a ducha, tentar racionalizar o que vai se comer, vestir-se (no automático, claro! na noite anterior você já separou toda a roupa para não ir ao trabalho com uma blusa xadrez de verde e marrom acompanhada de uma saia evasê vermelha ou qualquer outra combinação tão simpática quanto), pegar a pasta (obviamente, também com tudo que for necessário já colocado DENTRO da pasta na noite anterior) e sair.

Trânsito de segunda-feira de manhã. Que delícia! todos os motoristas estão amaldiçoando o mundo com buzinas, quase atropelamentos ou – pior – com uma lerdeza insuportável. Seu humor? sorria, fique alto astral! A semana está apenas começando! “O passarinho que madruga é o que pega a melhor minhoca”. Humpf!. Quem gosta de minhoca, dizem, é o MacDonald’s! ele que madrugue, pois! por que eu?!?…

Três horas depois de ter chegado ao trabalho você começa a acordar. É estranho acordar fora da sua cama, mas fazer o quê? com o tempo, acaba-se acostumando com o mais surreal dos despertares; acordar-se realmente vestido, no trabalho e já tendo trocado palavras (ainda que ininteligíveis) com colegas e outros.

Aos poucos, você se sente vivenciar um pouco daquilo tudo e começa realmente a se agradar do que está fazendo. Participa, inova, brinca, o trabalho nunca foi tão gostoso!

E no fim do dia, você ainda ouve ameaças nada veladas do patrão dizendo que você tem que melhorar de cara, pois a empresa precisa de funcionários felizes em trabalhar lá. Senão…

Típicas manhãs de segundas-feiras. Bem-vindo ao mundo real. Sorria!


Tetê Macambira trocou o despertador pelo celular e o celular por lambeijos.

Frustrada por nunca ter destruído dezenas de despertadorezinhos ridículos, recomenda lambeijos; há de se acordar sorrindo.

desjejum de segunda

o que comi

não basta saber cozinhar, tem que saber  quais usar ingredientes para cozinhar; não basta saber quais ingredientes usar, tem que se ter dinheiro para comprar ingredientes – e dinheiro tem sido coisa difícil de se manter na carteira, imagina em uma segunda-feira de manhã!

amanhecer plena segunda-feira nublada (precisava ser mais explícita a exemplificação da lassidão?) sem manteiga nem pão nem leite… e nem dinheiro… momento exige uma excursão investigativa nos recônditos escaninhos misteriosos da sua geladeira (incrível que mesmo um refrigerador de 240 l pode esconder mistérios insondáveis em suas profundezas!) e resgatar elementos alternativos para que se possa executar um desjejum aplicável ao caso (resumindo: cascavilhar para defender o rango da manhã).

hoje dei, para minha sorte, com goma fresca (não tão fresca, mas deu certo) que me rendeu tapiocas consideráveis, queijo coalho (um fim de festa, mas deu para fatiar fininho a fim de rechear as tapiocas) e leite condensado (na real, um dedinho que sobrou, mas misturado ao café…hmm…).

sabe aquela sensação de melhor refeição do mundo? não é só a fome que intensifica esse sabor, mas também o inesperado; imaginava/temia passar quase fome, à base de café preto… e só.

e, de repente, desjejum completo!: e diferente – o que estimula uma sensação de inovar o meu infinito particular.

saldo: desjejum decente tomado
aprendizagem: quando faltar algo, não temer recear a inovação.

o que vi

O incrível mundo de Gumball é uma animação que ainda me deixa perplexada (sim! perplexa + abismada = perplexada) e que passa insistentemente no Cartoon Network. Perplexa com a temática adulta, abismada com o besteirol; conteúdo pessimamente abordado – o que me deixa um tantinho assim reflexiva, feito a famosa estátua do Rodin: o que pretendem, afinal, com esse tipo de abordagem absurdamente (e, infelizmente, não estou sendo camusiana) caótica e irresponsável face às problematizações apresentadas?

e fico inquietando-me com a noção de que, talvez (quem sabe?), o que se possa apreender é que seja um ensaio de como não se importar com nada, um niilismo infantojuvenil (sou só eu que acha esquisito essa palavra não ter mais hífen com o novo acordo ortográfico, segundo o Volp?) em passar incólume por quaisquer agitações que não sejam inerentes ao ego (resumindo: meu umbigo e morra o resto!).

estarei sendo crítica e noiada demais? pior que penso que não, que definitivamente não mesmo.

saldo: vontade de mudar o canal
aprendizagem: esperar menos ainda da próxima geração (hélàs!)

o que farei

leitura com n-o-t-a-s do livro considerado YA (young adult) de David Levithan, todo dia, para mediação no grupo de leitura do WhatsApp.

não será o primeiro dia, trata-se do livro do mês, e houve resistência para adotarem esse livro, embora quisessem algum da Carina Rissi (sinceramente, eu a acho muuuiiito infantiloide – infantil e debiloide) ou do Nicholas Spark (embora²… duvido queiram adotar esse autor de novo, da única vez em que escolheram um livro dele, fi legendário! como eu não era a mediadora, ataquei de leitora… e fui feroz em minhas críticas – as quais tenho que me abster enquanto mediadora, afinal, o papel de mediar um livro é apresentá-lo e não detoná-lo), mas hoje… oh là là! já fizeram foi agendar a leitura da continuação desse livro, o “Outro dia”.

porque recomendei esse livro:
1. queria lê-lo;
2. alteridade é um assunto que sempre me atiça – e como não saber do outro se o protagonista vive um dia no corpo de outra pessoa, todo dia?;
3. considerado YA, um livro que seria mais de acordo com os hábitos de leitura dos integrantes do grupo, mas que era recomendado para quem não gostava do gênero, ou seja, prometia (e cumpre!) ser um livro da modinha um pouco mais maturado – e é o que leitores precisam: maturar experiências de leitura antes de atacar um Dostoiévski;
4. queria perceber o estilo de escrita do autor, David Levithan.

(resumindo: uni o útil ao agradável)

mas como hoje termina a jornada de leitura, já quero deixar prontas as perguntas-provocações que lançarei ao grupo: a ideia é que eu não ministre aula on-line, mas jogue a provocação feito isca e que debatam, discutam, exponham suas afirmações (é por isso que o grupo gosta tanto de mim enquanto mediadora; eu dou voz ao grupo – apenas direciono, mas também me deixo redirecionar caso seja pertinente), e, sim, é um exercício constante de alteridade – sempre temos que identificar o outro a fim de não melindrá-lo; trazê-lo ao nosso lado, não contra nós – e, se querem saber, sempre me é um dos exercícios de humanidade dos mais delicados e difíceis; o outro me é um mundo inabitável, acabamos todos nós sendo a epítome do Pequeno Príncipe vivendo sozinho em seu próprio asteroide B612.

saldo: dia ocupado com leitura crítica fazendo notas e mediação de todo dia, de David Levithan
aprendizagem: antecipar essas notas provocações, não procrastinar