aquele discurso que nunca te direi porque não vale mais a pena (segue o curso)

originalmente escrita em 2011


 

Chegou mensagem para você.

 

                            Sou eu.

Sim, é verdade.

Tenho saído muito, não paro mais em casa

       – tudo é pretexto para eu não ficar na casa que era nossa.

       ( e tudo me faz lembrar  dolorosamente de ti e de nossos castelos na areia)

Sim,é verdade.Não conseguimos mais nos ver.

       – Fujo de ti. Afinal,abandonaste-me e foste para o quarteirão vizinho.

       “tão longe, tão perto”; só me apareces quando queres pegar algo teu.

      (mas nunca queres saber de mim nem te preocupas mais uma vírgula comigo)

Sim,  é.

A viagem em que me ausentei por um tempo além do normal  mudou-me.

      – pude refletir, lembrar, resgatar tudo o que passei por tua causa.

     (e detalhes até então não computados começaram a ganhar corpo, enraivecendo-me)

Sim,ando sem tempo.

    – agora sou eu quem precisa de um tempo longe – não somente tu.

    mágoa e raiva cresceram e vicejaram na solidão em que  me deixaste.

    (“quero sentir saudades tuas”, quero macerar esse turbilhão de sentimentos)

Sim, é. Estou saindo com outro.

   – hoje tu és, de longe infinitamente, a pessoa que mais me machucou.

   mas não tens culpa disso totalmente – tampouco eu a tenho.

  (foi uma fase espinhosa para nós dois; o tempo talvez cicatrize as feridas)

Sim, é verdade. O tempo anda corrido.

   – mas nunca mais terei disponibilidade para ti

   Adeus, minha maior decepção; até nunca mais, se os deuses permitirem.

(o rio segue seu curso)

 

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[#clicttmacambira – Córrego Parreão, 2019]

 


 

Tetê Macambira não se arrepende do passado,

mas confessa que houve “desnecessidades”.