Nuvem negra


originalmente publicado em Papel de Arte em 13/10/09 às 22h18


                                                                (Dedicada à menina quase zumbi desse último sábado)

Tristeza de quem morre um pouco a cada instante

cara de morta-viva

cara de zumbi

– não! zumbi é mais alegre

Ai, que vontade que dá

de mandar acorrentar a uma praça pública e mandar dar uma surra

todo santo dia

quem sabe, daqui a três meses,

indagar-se-ia:

– Ué! e eu estou apanhando, é?

Continuaria sendo castigada

quem sabe, dali a mais uns dois meses,

questionar-se-ia:

– Mas… por que é mesmo que estou a apanhar?

Tem gente assim….

que precisaria de uma lição, de uma surra

para enxergar a realidade.

E fazer com que essa  nuvem negra,

aparentemente pairando sobre a cabeça,

deixe-se chover em lágrimas de arrependimento

– por ter sido tão idiota.

Blogar ou não blogar, eis a questão


originalmente publicado em Papel de Arte, 10/4/2007 às 0h25

Amante das canetas e dos papéis os mais diversos, acho-me agora no ingrato papel de adúltera; tenho traído o papel com o monitor e a caneta pelo teclado. Mas o tempo urge e as ideias fervilham, elas vêm em tsunamis e em vendavais, ou, às vezes, eu nem sequer as percebo, tão lentas e tranquilas elas se arrastam preguiçosamente para a minha mente entorpecida pelas poluições cotidianas. Em suma: foi-me necessária a traição.

Esta é a minha confissão pública: doravante, enquanto o Simão Dragão (nomenclatura do meu PC) estiver à minha disposição, aqui virei para postar as minhas ideias absurdas, os meus desejos infantis, minhas manias megalômanas, minhas raivas e frustações cotidianas e – lógico! – minhas “sacações” literárias. Meu muro de lamentações particular.

Odeio manhãs de segundas-feiras


originalmente publicado em Papel de Arte, 16/04/2007, às 19h40

Sabe aquele soninho o mais gostoso, o das 5 horas da manhã, quando você parece ter encontrado o nirvana através da zzzz-ioga? Acordes que só podem ser entoados por anjos não caídos ressoam em você e, aí, num máximo grau de pura delícia você se aninha ainda mais na sua caminha aconchegante, agarra seu lençol ou alguém ou algo bem gostoso e confiável ao seu lado e se entrega ao prazer do meio-dormir, que é aquele estado entre dormir e esperando l-e-n-t-a-m-e-n-t-e despertar tão maravilhosamente quanto todas aquelas cenas de filmes já demonstraram; com prazer, volúpia e tranquilidade.

Mas nããããããooo… no meio desse seu chamego todo, você ouve o barulho mais irritante do mundo: o do despertador. E daqueles que ficam, durante mais de uma hora inteira: tiririm tiririm tiririm tiririm tiririm… Por tudo que é mais sagrado! esse barulhinho irrita até um santo!

Você já deve ter passado no centro comercial da cidade e visto os camelôs vendendo aquelas porcarias de despertadores vagabundos cuja única vantagem é que você pode se dar ao luxo de destruir um por semana – de raiva – e logo em seguida comprar outro porque eles são estupidamente baratos demais, não viu? Pois. Cada vez que passo por um desses vendedores que tenha posicionado estrategicamente seus plastiquinhos coloridos munidos de ponteiros – e trilando!, geralmente uns cinco ou seis, juro para vocês, me dá uma vontade louca de quebrar tudinho. Assim, num pontapé bem dado, ou melhor ainda, puxar o pano para o alto e derrubar todos no chão e sair pisoteando freneticamente aquelas coisas imbecis. Bem no estilo Jesus açoitando os mercadores em frente ao templo. Uma louca alucinada brigando com o tempo em plena meca dos escravos do despertador. Loucura justificada. Um dia ainda faço isso. Só preciso juntar o dinheiro para pagar o prejuízo ao tiozinho da calçada. Mas um dia… ahhh…. vingar-me-ei.

Depois do despertador ter te empurrado p*** da vida para fora da cama, encarar a ducha, tentar racionalizar o que vai se comer, vestir-se (no automático, claro! na noite anterior você já separou toda a roupa para não ir ao trabalho com uma blusa xadrez de verde e marrom acompanhada de uma saia evasê vermelha ou qualquer outra combinação tão simpática quanto), pegar a pasta (obviamente, também com tudo que for necessário já colocado DENTRO da pasta na noite anterior) e sair.

Trânsito de segunda-feira de manhã. Que delícia! todos os motoristas estão amaldiçoando o mundo com buzinas, quase atropelamentos ou – pior – com uma lerdeza insuportável. Seu humor? sorria, fique alto astral! A semana está apenas começando! “O passarinho que madruga é o que pega a melhor minhoca”. Humpf!. Quem gosta de minhoca, dizem, é o MacDonald’s! ele que madrugue, pois! por que eu?!?…

Três horas depois de ter chegado ao trabalho você começa a acordar. É estranho acordar fora da sua cama, mas fazer o quê? com o tempo, acaba-se acostumando com o mais surreal dos despertares; acordar-se realmente vestido, no trabalho e já tendo trocado palavras (ainda que ininteligíveis) com colegas e outros.

Aos poucos, você se sente vivenciar um pouco daquilo tudo e começa realmente a se agradar do que está fazendo. Participa, inova, brinca, o trabalho nunca foi tão gostoso!

E no fim do dia, você ainda ouve ameaças nada veladas do patrão dizendo que você tem que melhorar de cara, pois a empresa precisa de funcionários felizes em trabalhar lá. Senão…

Típicas manhãs de segundas-feiras. Bem-vindo ao mundo real. Sorria!


Tetê Macambira trocou o despertador pelo celular e o celular por lambeijos.

Frustrada por nunca ter destruído dezenas de despertadorezinhos ridículos, recomenda lambeijos; há de se acordar sorrindo.

Tédio


originalmente publicado em Papel de Arte, 20/04/2007 às 20h58

 

Então é isso. Mais uma semana se escoou e o que nos resta? 
pensar sobre o cíclico, assistir à TV, 
ir visitar alguns familiares 
ou ser por eles ou por amigos visitados.

E, caso não se tenha nada para se ocupar o tempo, 
o TÉDIO chega junto, 
arruma um cantinho confortável para ele mesmo 
e se esparrama bem ....  
inconvenientemente alheio a qualquer mal-estar 
que esteja ocasionando. 
Nãããão... é você quem tem que se levantar, 
dar um jeito só seu 
e expulsar esse folgado marmotoso de sua casa. 
De preferência, a vassouradas. 
De uma forma que tão cedo ele não se anime 
a visitá-lo novamente em sua residência 
e querendo vir, entrando, 
se alojando como  se viesse para morar definitivamente.

Tédio é o visitante incômodo 
que nos espreita a ver se encontra uma brecha 
para se instalar em nosso lar. 
E se não se tomar cuidado... 
vixe!! 
acaba-se acostumando com a presença inexorável dele, 
quase como se tivéssemos nascido irmãos siameses.
Eu e o meu tédio. 
Você e o seu tédio. 
Ele e o seu tédio.
E não conjuguemos o "ter tédio" no plural, 
porque os gramáticos não entendem nada de tédio; 
tédio não gosta de muita companhia, 
tédio ama a solidão.

De preferência, o tédio chega e absorve, 
tal qual um vampiro enérgetico, alguém. 
Muitas vezes, uns desistem de conviver com ele, 
indo para além dos jardins da vida, 
e deixam o tédio sozinho nesta vida; 
Só e livre para procurar uma nova vítima.
img-20190317-wa0023


 

Tetê Macambira declara que o tédio é entediante

Coffee break


originalmente postado em Papel de Arte, em 29 de junho de 2009

 

Segunda-feira à noite. Início da semana, mas é a última semana antes das férias escolares. Por que não fazer uma pausa? Refletir. Pensar no que realmente importa na vida. Desligar um pouco a TV e se ver.

Onde pretendemos chegar? como estamos caminhando na nossa trilha para chegarmos lá, onde queremos chegar? E – talvez, o mais importante – COMO temos feito isso? atropelando quem estiver à frente ou praticando a gentileza na voz, nos atos e no coração?

São perguntas que podemos fazer em qualquer momento do dia, mas que nesse fim de noite traz como cúmplice a serenidade que começa a cobrir esta cidade. Os sons diminuem, a poluição reduz-se. Tudo nos leva à uma reflexão: Qual o objetivo da minha vida e o que e como estou fazendo para atingir esse objetivo?

Paremos. tomemos um café ou um cappuccino ou uma chocolatada deliciosa, não importa! O que realmente é necessário é decidirmos as nossas próprias vidas.

Tenhamos, todos, uma excelente semana e auspiciosas férias.

Bom fim de noite a todos.

aquele discurso que nunca te direi porque não vale mais a pena (segue o curso)

originalmente escrita em 2011


 

Chegou mensagem para você.

 

                            Sou eu.

Sim, é verdade.

Tenho saído muito, não paro mais em casa

       – tudo é pretexto para eu não ficar na casa que era nossa.

       ( e tudo me faz lembrar  dolorosamente de ti e de nossos castelos na areia)

Sim,é verdade.Não conseguimos mais nos ver.

       – Fujo de ti. Afinal,abandonaste-me e foste para o quarteirão vizinho.

       “tão longe, tão perto”; só me apareces quando queres pegar algo teu.

      (mas nunca queres saber de mim nem te preocupas mais uma vírgula comigo)

Sim,  é.

A viagem em que me ausentei por um tempo além do normal  mudou-me.

      – pude refletir, lembrar, resgatar tudo o que passei por tua causa.

     (e detalhes até então não computados começaram a ganhar corpo, enraivecendo-me)

Sim,ando sem tempo.

    – agora sou eu quem precisa de um tempo longe – não somente tu.

    mágoa e raiva cresceram e vicejaram na solidão em que  me deixaste.

    (“quero sentir saudades tuas”, quero macerar esse turbilhão de sentimentos)

Sim, é. Estou saindo com outro.

   – hoje tu és, de longe infinitamente, a pessoa que mais me machucou.

   mas não tens culpa disso totalmente – tampouco eu a tenho.

  (foi uma fase espinhosa para nós dois; o tempo talvez cicatrize as feridas)

Sim, é verdade. O tempo anda corrido.

   – mas nunca mais terei disponibilidade para ti

   Adeus, minha maior decepção; até nunca mais, se os deuses permitirem.

(o rio segue seu curso)

 

img-20190318-wa0046
[#clicttmacambira – Córrego Parreão, 2019]

 


 

Tetê Macambira não se arrepende do passado,

mas confessa que houve “desnecessidades”. 

“Inês é morta!”

O dito popular: “Agora é tarde, Inês é morta!” designa que não há mais o que fazer, não há mais como desculpar-se, pois que o tempo disso já passou.

Poucos sabem, mas essa frase se refere a um passado de Portugal. Ao Rei Dom Pedro I de Portugal (o nosso dom Pedro I em Portugal, era IV) e às suas primeiras núpcias.

Provavelmente nasceu em 1320 a menina a que deram o nome de Inês de Castro, uma filha natural de Pedro Fernández de Castro e de Aldonza Soares de Valladares. Desde pequenina, foi levada ao castelo de Peñafiel, onde viveu em companhia de Constanza Manuel.

Apresentados os dados iniciais, vamos à história: Alfonso IV, rei de Portugal, decidiu que chegara a hora de seu filho mais velho, Pedro, contrair matrimônio. E como soía acontecer nas famílias reais, o casamento era mais uma forma de firmarem-se alianças que de propriamente um ato de amor. Podemos até imaginar o diálogo nos dias de hoje:

– Pedro, meu filho, está na hora de te casares.

– Ihhh… que é isso, pai?… sai dessa!

– Não, meu filho. Como és meu príncipe e herdeiro, tens que assumir logo as atribuições do trono.

– Mas não amo ninguém, pai!

– E quem te disse que um rei tem direito a amar? Apenas te casarás com aquela que melhor for para o nosso reino.

– Humpf! fazer o quê?… se é o jeito…

– É sim. Vai-te logo acostumando com a ideia.

Dom Alfonso fechou contrato com a famĺlia de Constanza e esta foi a Portugal. Acompanhada de sua dama, Inês de Castro. Após uma longa viagem, chegaram ao palácio de Portugal. Dom Pedro esperava a comitiva. Quando as damas desembarcaram, ele se apaixonou perdidamente… pela dama de companhia, Inês de Castro. Com o casamento firmado, foi ter as benditas núpcias com a esposa. Mas, a partir do dia seguinte, começou a perseguir e a cortejar de todas as formas possíveis… Inês. E tanto fez, e tanto insistiu, e (dizem) tão charmoso era, que ela não teve como resistir… acabou por ceder, também flechada pelo cupido.

Entregaram-se às delícias de seu amor proibido. Pedro a colocou na Quinta das Lágrimas, em Coimbra, onde ela era rainha e dona do coração dele. Enquanto isso, no palácio, Constanza, que também se apaixonara pelo príncipe, morria à míngua. Inanição (que essa lengalenga de dizer que se morre de amor é balela; morre-se de bala, de baraço, de fome… mas de amor? nã-nanina-não). Deitara-se na cama após o nascimento de Fernando, filho e herdeiro e, como o marido não a procurava mais, deixou-se morrer lentamente.

Passaram-se alguns anos e Inês teve com Pedro vários filhos: Beatriz, João e Dionísio. Viviam em harmonia invejável. Dom Alfonso se preocupava: Inês era natural e filha de Castela; não poderia deixar o reino de Portugal para a prole dela. Chamou seu filho Pedro e novamente propôs que ele se casasse. Ao que ele respondeu:

– Com prazer, meu pai. Contanto que seja com Inês de Castro.
De nada adiantou o pai apontar as desvantagens políticas e sociais do casamento com a ex-dama de companhia da ex-mulher dele, Pedro se mostrou irredutível. Só se casaria se fosse com Inês de Castro. Percebendo que não conseguiria nada em apelar para o bom senso do filho, Dom Alfonso o enviou em uma missão para longe de Portugal. Mal o filho saía da cidade, o rei, ouvindo seus conselheiros, resolveu mandar matar Inês de Castro. Com ela longe da vista do filho, este aceitaria um novo matrimônio.

Foram três os cavaleiros – Gonçalves, Coelho e Pacheco – que se dirigiram à Coimbra a fim de executar a jovem bela, de corpo esbelto e olhos claros e tranquilos, e colo “de cisne” – como diziam os portugueses. Ao chegarem lá, dom Alfonso apeou do cavalo e foi ter com a jovem. Ela defendeu-se tão doce e verdadeiramente que o rei se desarmou. Voltando-se aos outros cavaleiros, ele fez tal qual Pilatos: lavou as mãos e entregou a justiça às mãos assassinas dos outros. Que, rapidamente, se precipitaram sobre a jovem mãe cercada de seus três filhos, o mais novo ainda de colo, e a mataram.

Quando Pedro retornou e viu apenas um dos seus filhos sobrevivendo (e, devido à brutalidade presenciada, nunca pôde ser considerado normal), entrou em desespero. Para maior desespero do pai, ainda repetia que se casaria apenas se fosse com Inês de Castro. “Mas ela está morta!” – reclamava o rei e o pai. Pedro calava-se e permaneceu mudo por mais alguns anos até que o pai morreu em 1357. E, como diz o ditado, “Rei morto, rei posto”.

Mal Dom Pedro foi coroado rei, mandou exumar (isso mesmo! desenterrar a ossada!) o corpo de Inês, mandou limpar ossinho por ossinho, mandou ligar todo o esqueleto de sua amada. Fez com que o casassem com ela. A única rainha morta da história; a que foi coroada depois de morta. E, reza a lenda, Pedro ainda exigiu que todos da corte viessem beijar a mão descarnada e render homenagem à rainha Inês.

Dizem ainda que dom Pedro não conseguia mais dormir, pois, que cada vez que pegava no sono, vinha-lhe a imagem de Inês a lhe lamentar: “Se estivesses perto de mim, eu não teria morrido. Por que tiveste que te afastar de mim?”. Ele acordava gritando e saía pelas ruas de Portugal a fazer festa ou… ia para as masmorras fazer justiça.

Sim, porque desde que fora coroado rei, ele mandara prender nas masmorras os executores de sua rainha. E sempre que descia a fim de torturá-los mais um pouco, eles gritavam por clemência:

– Perdão, el-rei! perdão, el-rei!
Ao que Dom Pedro respondia, invariavelmente:

– Agora é tarde; Inês é morta.

Apesar de tudo, Dom Pedro I ficou conhecido como o “Justiceiro” e amado pelo seu povo, pois sempre que podia nas questões jurídicas, fazia valer a lei para o lado dos mais pobres. Dizem, também, que dom Pedro nunca mais se deitou com nenhuma outra mulher e permaneceu fiel a Inês até o dia de sua morte. Ele mandara construir um mausoléu para a rainha, no monastério de Santa Maria de Alcobaça, considerada a obra gótica máxima de Portugal. Defronte, mandou construir o próprio mausoléu… para que, no dia do juízo final, ele primeiro possa rever a sua amada Inês.

Uma história de amor histórica e lendária, da qual já não há mais como separar a lenda do real.

Encontram-se referências a essa história tanto em “Os Lusíadas”, de Luís Vaz de Camões, quanto em “Mensagem”, de Fernando Pessoa. Trechos que hoje não vou poder publicá-los aqui, senão meu post vai ficar imenso. Há outros links nos quais se pode pesquisar mais a história de Inês de Castro.

Mas essa história eu a ouvi primeiro da professora de literatura portuguesa da faculdade de letras, Coema. Meus mais profundos agradecimentos à mestra.

[conto erótico]

Da última vez, ele me pegou quase que à força – e eu gostei.

Estávamos deitados, brigáramos  por  algo que não  vale nem o tungstênio desta bic vermelha relembrar, tão debiloidemente  conseguimos discutir por minúcias risíveis. Mas, enfim! Deitado, ele espichou o braço além do alcance do seu território de cama, inequivocadamente puxando-me para baixo do lençol dele.

Miserável.

Ele estava nu. Deliciosa e tentadoramente nu. Despido da modéstia e do pudor. Pelos pelos pubianos deveria estar… o objeto do meu desejo – do meu mais louco e salivante desejo. Relutei. Resisti. Não é assim que se acaba uma discussão. E não me interessa se a minha TPM ditava as absurdices que eu dizia. Era uma discussão, caralho! Não se acaba uma discussão assim. Não mesmo. Não… Respiração pesando, audivelmente pesando mais e mais. Filho da mãe do guarda! Ele sabia por demais do meu tesão por ele. E se ofertava assim, gratuitamente, à minha disposição…. de grátis mesmo. Feladaputa. Mas ia ver… ora se ia!… o cão que viesse, mas eu não arredaria um milímetro para perto de… Ai… Que droga! pensei em abocanhá-lo… hmmm.. NÃO. Sou mais forte do que o meu desejo por ele. Sou, sim. Eu consigo. Calma. Devagarzinho, é só deslizar para  fora deste lençol e…

(e tomar um banho de cachoeira às duas da madrugada, ou então, me trancar dentro do freezer até o dia raiar e eu virar um picolé sabor tesão reprimido ou sair para a rua e estuprar violentamente o primeiro que tiver o azar de passar na minha frente ou…)

Evasiva frustrada. Ainda de olhos fechados, o filho alheio me agarra forte e decididamente os cabelos ao mesmo tempo em que afasta de si o lençol com a outra mão (nossa! quanta coordenação motora!!) e me empurra para a… Aaa…

Abocanhei. Gulosamente. Esquecida da briga, da discussão, do tempo, das contas, do chocolate, da internet, do facebook, de tudo o quanto possa existir no mundo real e virtual. O momento se limitava e se resumia a provar, lamber, sorver, chupar, ameaçar mordiscar, cheirar… por que ele tem de ter um órgão tão gostoso, porra? Geralmente não gostava nem de passar a mão nos pertences pessoais dos meus poucos homens, mas ele… Eu sempre quero oralizar, sexualmente falando. E não me canso de experimentar fazer coisas: passar a língua bem lentamente, ir abocanhando até quase engasgar (ele é grande!…), esfregar meu rosto nele, chupar como se a minha possibilidade de viver fosse extraída dali,  girar a língua em torno dele enlouquecidamente, subir e descer subir e descer subir e descer a boca continuamente – entre as tentativas de que me lembre agora. E me aventuro com ele; ele me deixa livre para descobrir, inventar, confia em  mim para que eu faça o que eu quiser. Além disso, o sabor é incomparável, o cheiro me atiça a continuar e ir em frente – até que minha mandíbula reclame dos excessos de exercícios.

Cansei. Saí do meio de suas coxas e sentei-me ao pé da cama.  Silencioso e rápido, ele se levantou, ajoelhou-se  sobre a cama, puxou-me de novo pelos cabelos e me forçou a continuar a chupá-lo mais um pouco, para logo em seguida empurrar-me para a cama e me arrancar o pijama, sem nem prestar atenção ao meu ridiculamente enfraquecido “Não” quando tirou a calça do pijama de mim – com calcinha e tudo. Abriu-me as coxas e se enfiou em mim de uma só vez. Filho da mãe. Maldito. Maldito filho da mãe delicioso. E ainda me encontrava assim, toda preparadamente ensopada – sem quase nenhum empecilho além de uma negativa positivamente afirmativa.

Não adiantou nenhum queixume, nenhum ai, nenhuns gemidos pretensamente sofridos. Ele aproximou a boca do meu ouvido  e sussurrou-me um comando militaresco:

– Quieta! Fica quieta.

 

E, sem se importar comigo nem com meus gozos múltiplos que me torciam o corpo todo por sob ele, ele continuou se mexendo rítmica, concentrada e persistentemente dentro de mim. Delicada, com força, alternando movimentos de vai e vem com súbitos arranques laterais, orquestrando em mim um coro de gemidos entremordidos, indo… quando… Inundação. Multiplicidade de prazer em gozos simultâneos explodindo dentro de mim.

Quando finalmente acabou, agarrei-lhe as pernas com minhas próprias pernas, desesperada.

– Não! Não vai!

– Calma – soltou, rindo-se um pouco da minha agonia.

Foi, tranquilamente, cuidar da própria vida, acessar a net, jogar online – enquanto eu sofria, jogada na cama, a felicidade cansativa de tentar recompor minhas moléculas espalhadas pelo universo. Filho da santa… cansou-me mesmo.

Tanto esforço para não me aproximar, para não cair na tentação. Inútil.

Cansada, quase forçada. E, ordinária que eu sou, satisfeita para além da conta.

(Conto Erótico – Tetê Macambira)

Publicada por Tetê Macambira / Papel de Arte à(s) 21:15

Enviar a mensagem por emailDê a sua opinião!Partilhar no TwitterPartilhar no FacebookPartilhar no Pinterest

Etiquetas: Conto Erótico